Esta página cita fontes, mas que não cobrem todo o conteúdo.Junho de 2015) ( |
Cruzada é um termo utilizado para designar qualquer dos movimentos militares de inspiração cristã que partiram da Europa Ocidental em direção à Terra Santa e à cidade de Jerusalém, com o intuito de conquistá-las, ocupá-las e mantê-las sob domínio cristão. Existiram também outras Cruzadas contra movimentos cristãos dissidentes na Europa, como a Cruzada Albigense.
Estes movimentos estenderam-se entre os séculos XI e XIII, época em que a Palestina estava sob controle do Sultanato de Rum. No médio oriente, as cruzadas foram chamadas de "invasões francas", já que os povos locais viam estes movimentos armados como invasões e porque a maioria dos cruzados vinha dos territórios do antigo Império Carolíngio e se autodenominavam francos.
Os ricos e poderosos cavaleiros da Ordem de São João de Jerusalém (Hospitalários) e dos Cavaleiros Templários foram criados durante as Cruzadas. O termo é também usado, por extensão, para descrever, de forma acrítica, qualquer guerra religiosa ou mesmo um movimento político ou moral.
O termo cruzada não era conhecido no tempo histórico em que ocorreu. Na época eram usadas, entre outras, as expressões "peregrinação" e "guerra santa". O termo Cruzada surgiu porque seus participantes se consideravam soldados de Cristo, distinguidos pela cruz presente em suas roupas. As Cruzadas eram também uma peregrinação, uma forma de pagamento a alguma promessa, ou uma forma de pedir alguma graça, e era considerada uma penitência.
Por volta do ano 1000, aumentou muito a peregrinação de cristãos para Jerusalém, pois corria a crença de que o fim dos tempos estava próximo e, por isso, valeria a pena qualquer sacrifício para evitar o inferno. Incidentalmente, as Cruzadas contribuíram muito para o comércio com o Oriente.
Antecedentes
As guerras árabe-bizantinas de 629 a 1050 resultaram na conquista muçulmana do Levante e do Egito pelo Califado Rashidun. Jerusalém foi capturada após um cerco de meio ano em 637. Em 1025, o imperador bizantino Basílio II conseguiu estender a recuperação territorial do império ao máximo, com as fronteiras se estendendo para o leste até o Irã. As relações do império com seus vizinhos islâmicos não eram mais conflituosas do que suas relações com os cristãos ocidentais, após o Cisma Leste-Oeste de 1054. A situação política no Oriente Médio foi alterada por ondas de migração turca — em particular, a chegada dos turcos seljúcidas no século X. Anteriormente um clã governante menor da Transoxiana, eles eram recém-convertidos ao Islã que migraram para a Pérsia. Eles conquistaram o Irã, o Iraque e o Oriente Próximo para o Império Seljúcida. A tentativa de confronto de Bizâncio em 1071 para suprimir os ataques esporádicos dos seljúcidas levou à derrota na Batalha de Manziquerta, e por fim à ocupação da maior parte da península da Anatólia. No mesmo ano, Jerusalém foi tomada do Califado Fatímida pelos seljúcidas liderados pelo senhor da guerra , que conquistou a maior parte da Síria e da Palestina em todo o Oriente Médio.
Nove cruzadas (segundo a tradição)
Tradicionalmente fala-se em nove Cruzadas, mas, na realidade, elas constituíram um movimento quase permanente.[carece de fontes]
Cruzada Popular ou dos Mendigos (1096)
Em 1074, apenas três anos após Manziquerta e a tomada de Jerusalém pelos seljúcidas, Gregório VII começou a planear o lançamento de uma campanha militar para a libertação da Terra Santa. Vinte anos mais tarde, Urbano II concretizou esse sonho, organizando o decisivo e o subsequente Concílio de Clermont, em novembro de 1095, o que resultou na mobilização da Europa Ocidental para ir para a Terra Santa. O imperador bizantino Aleixo I Comneno, preocupado com os contínuos avanços dos seljúcidas, enviou emissários a estes concílios pedindo ajuda a Urbano II contra os turcos invasores. Urbano II falou da violência da Europa e da necessidade de manter a Paz de Deus; de ajudar Bizâncio; dos crimes que estavam a ser cometidos contra os cristãos no Oriente; e de um novo tipo de guerra, uma peregrinação armada, e de recompensas no céu, onde a remissão dos pecados era oferecida a quem morresse na empreitada. A multidão entusiasmada respondeu com gritos de Deus lo volt! (Deus o quer!).
A Cruzada Popular ou dos Mendigos (1096) foi um acontecimento extraoficial que consistiu em um movimento popular que caracteriza o misticismo da época e começou antes da Primeira Cruzada oficial. O monge Pedro, o Eremita, graças a suas pregações comoventes, conseguiu reunir uma multidão que incluía mulheres, velhos e crianças para participarem.
Na busca de recursos financeiros para a longa viagem até a Palestina, estes cruzados buscaram infiéis ricos mais próximos de suas casas. Assim, começaram a atacar judeus europeus. As primeiras vítimas foram os judeus da Renânia. Inspirado por Pedro o Eremita, o conde marcou a própria testa com queimadura em forma de cruz e liderou um grupo de peregrinos para atacar os judeus da cidade de Spier. Apesar da oposição do bispo católico da cidade, os peregrinos mataram muitos judeus que se recusaram a abraçar a fé cristã. O mesmo bando seguiu depois até Worms, atacou a e matou mais de mil judeus. O grupo prosseguiu até Mogúncia, onde mais 990 judeus foram mortos.
Ataques a judeus ocorreram também na Colônia, Tréveris, Metz, Praga e Ratisbona e o sentimento antijudeu espalhou-se pela França e Inglaterra. Ante a impaciência da multidão, em Edemburgo (atual Sopron), Pedro despachou seu comandante militar com cinco mil cruzados. Ao chegar à cidade bizantina de Belgrado, os cruzados começaram a pilhar a área rural e 150 deles morreram em confronto com a população local
Auxiliado por um cavaleiro, Guautério Sem-Haveres, os peregrinos atravessaram a Alemanha, Hungria e Bulgária, causando desordens e desacatos, sendo em parte aniquilados pelos búlgaros.
Em 1 de agosto de 1096, chegaram em péssimas condições a Constantinopla. Mal equipada e mal alimentada, essa cruzada massacrou, pilhou e destruiu. Ainda assim, o imperador bizantino Aleixo I Comneno recebeu os seguidores do eremita em Constantinopla. Prudentemente, Aleixo aconselhou o grupo a aguardar a chegada de tropas mais bem equipadas. Mas a turba começou a saquear a cidade.
O imperador bizantino, desejando afastar esse "bando turbulento" de sua capital, obrigou-os a se alojar fora de Constantinopla, perto da fronteira muçulmana, e procurou incentivá-los a atacar os infiéis. Foi um desastre, pois a Cruzada dos Mendigos chegou muito enfraquecida à Ásia Menor, onde foi arrasada pelos turcos. Somente um reduzido grupo de integrantes conseguiu juntar-se à cruzada dos cavaleiros.
Durante um mês, mais ou menos, tudo o que os cavaleiros turcos fizeram foi observar a movimentação dos invasores, que se ocupavam apenas de saquear as regiões próximas do acampamento onde foram alojados. Até que, em agosto de 1096, o bando inquieto cansou-se de esperar e partiu para a ofensiva.
Quando parte dos europeus resolveu partir em direção às muralhas de Niceia (atual İznik), cidade dominada pelos muçulmanos, uma primeira patrulha de soldados do sultão turco Quilije Arslã I foi enviada, sem sucesso, para barrá-los. Animado pela primeira vitória, o exército do Eremita continuou o ataque a Niceia, tomou uma fortaleza da região e comemorou se embriagando, sem saber que estava caindo numa emboscada. O sultão mandou seus cavaleiros cercarem a fortaleza e cortarem os canais que levavam água aos invasores. Foi só esperar que a sede se encarregasse de aniquilá-los e derrotá-los, o que levou cerca de uma semana.
Quanto ao restante dos cruzados maltrapilhos, foi ainda mais fácil exterminá-los. Tão logo os francos tentaram uma ofensiva, marchando lentamente e levantando uma nuvem de poeira, foram recebidos por um ataque de flechas. A maioria morreu ali mesmo, já que não dispunha de nenhuma proteção. Os que sobreviveram fugiram em pânico.
O sultão, que havia ouvido histórias temíveis sobre os francos, respirou aliviado. Mal imaginava ele que aquela era apenas a primeira invasão e que cavaleiros bem mais preparados ainda estavam por vir.
Primeira Cruzada (1096-1099)
Foi chamada também de Cruzada dos Nobres ou dos Cavaleiros. Ao pregar e prometer a salvação a todos os que morressem em combate contra os pagãos (neste caso, se referia aos muçulmanos) em 1095, o papa Urbano II estava a criar um novo ciclo. É certo que a ideia não era totalmente nova: parece que já no século IX se declarara que os guerreiros mortos em combate contra os muçulmanos na (Sicília) mereciam a salvação.
As várias versões que nos restam do seu apelo mostram que Urbano relatou também os infortúnios dos cristãos do oriente, e sublinhou que se até então os cavaleiros do ocidente habitualmente combatiam entre si perturbando a paz, poderiam agora lutar contra os verdadeiros inimigos da fé, colocando-se ao serviço de uma boa causa. O apelo foi feito a todos sem distinção, pobres ou ricos. E foi, de fato, o que sucedeu. Mas os ricos e pobres rapidamente formaram cruzadas separadas.
Por volta de 1097, um exército de 30 000 homens, dentre eles muitos peregrinos, cruzou a Ásia Menor, partindo de Constantinopla. A cruzada dos cavaleiros, possuindo recursos, embora progredindo devagar, fizera um acordo com o imperador bizantino de lhe devolver os territórios conquistados aos turcos. Liderada por grandes senhores, levava quer proprietários, quer filhos segundos da nobreza. Esse acordo seria desrespeitado, à medida que o mal-entendido entre as duas partes cresceria.
Os bizantinos pretendiam um grupo de mercenários solidamente enquadrados ao qual se pagasse o soldo e que obedecesse às ordens — não aquelas turbas indisciplinadas; os cruzados não estavam dispostos, depois de tantos sacrifícios a entregar o que obtinham. Apesar da animosidade entre os líderes e das promessas quebradas entre os cruzados e os bizantinos que os ajudavam, a Cruzada prosseguiu. Os turcos estavam simplesmente desorganizados. A cavalaria pesada e a infantaria francas não tinham experiência em lutar contra a cavalaria leve e arqueiros turcos, e vice-versa. A resistência e a força dos cavaleiros venceram a campanha em uma série de vitórias, a maioria muito difíceis.
Em 19 de junho de 1097, os cruzados cercaram e tomaram Niceia (atual İznik), devolvendo-a aos bizantinos, e logo tomaram o rumo de Antioquia. Em julho, foram atacados pelos turcos em Dorileia, mas conseguiram vencê-los e, após penosa marcha, chegaram aos arredores de Antioquia em 20 de outubro. A cidade de Antioquia somente cairia, após longo cerco, a 3 de junho de 1098, com a ajuda de um sentinela armênia que facilitou a entrada dos cruzados nas muralhas da cidade. Seguiu-se um saque terrível da população muçulmana da cidade, que ficou na posse de Boemundo de Taranto, o chefe dos normandos.
Godofredo de Bulhão, após longo cerco, conquistou Jerusalém atacando uma guarnição fraca em 1099. A repressão foi violenta. Segundo o arcebispo Guilherme de Tiro, a cidade oferecia tal espetáculo, tal carnificina de inimigos, tal derramamento de sangue que os próprios vencedores ficaram impressionados de horror e descontentamento. Godofredo de Bulhão ficou só com o título de protector e, à sua morte, Balduíno, seu irmão, proclamou-se rei. Os cristãos humilharam-se após as duas conquistas massacrando muito dos residentes, indiferentemente da idade, fé ou sexo. Após a vitória, era preciso organizar a conquista. Surgiram quatro estados cruzados, conhecidos coletivamente como Ultramar, do norte para o sul: o Condado de Edessa, o Principado de Antioquia, o Condado de Trípoli, e o Reino de Jerusalém.
O sucesso da primeira cruzada pelas indisciplinadas tropas foi até certo ponto uma surpresa e ocorreu porque os cruzados chegaram num momento de desordem naquela periferia do mundo islâmico. Uma vez conquistado o território ao inimigo, os cruzados, cujos desentendimentos com os bizantinos começaram ainda durante a campanha, não mais quiseram devolver as terras aos seus irmãos de fé cristã do Império Bizantino.
Muitos dos combatentes retiraram-se uma vez conquistada Jerusalém (incluindo os grandes senhores), mas um núcleo ficou (cálculos chegam a falar de algumas centenas de cavaleiros e um milhar de homens a pé). As cidades principais (como Antioquia, Edessa) tornarem-se capitais de principados e reinos (embora Jerusalém fosse de certo modo o centro político e religioso), com outras marcas a protegê-los.
O sistema feudal foi transplantado para oriente com algumas alterações: muitas vezes, em vez de receber feudos, os cavaleiros eram pagos com direitos ou rendas (modalidade que existia também na Europa). As cidades mercantis italianas tornaram-se fundamentais para a sobrevivência desses estados: permitiram a chegada de reforços e interceptar os movimentos das esquadras muçulmanas, tornando o Mediterrâneo novamente um mar navegável pelos ocidentais. Mas rapidamente os muçulmanos iriam reagir.
De qualquer modo, nos anos seguintes, com a euforia da vitória, mais voluntários seguiram para o Oriente. Os contingentes seguiam por nacionalidades, continuando pouco organizados. As motivações eram variáveis: se alguns pretendiam obter novos feudos, ou redimir-se das suas faltas, havia também aqueles que "apenas" pretendiam ganhar batalhas, cobrir-se de glória, bênçãos espirituais, e voltar para a sua terra.
Os governantes cruzados encontravam-se em grande desvantagem numérica em relação às populações muçulmanas que eles tentavam controlar. Assim, construíram castelos e contrataram tropas mercenárias para mantê-los sob controle. A cultura e a religião dos francos era muito estranha para cativar os residentes da região. Dos seguros castelos, os cruzados interceptavam cavaleiros árabes.
Por aproximadamente um século, os dois lados mantiveram um clássico conflito de guerrilha. Os cavaleiros francos eram muito fortes, mas lentos. Os árabes não aguentavam um ataque da cavalaria pesada, mas podiam cavalgar em círculo em volta dela, na esperança de incapacitar as unidades dos francos e fazer emboscadas no deserto. Os reinos cruzados localizavam-se, em sua maioria, no litoral, pelo qual eles podiam receber suprimentos e reforços, mas as constantes incursões e o infeliz populacho mostravam que eles não eram um sucesso econômico.
Por volta do ano 1100, uma nova expedição partiu. Chegados a Constantinopla, levantaram-se discussões com os bizantinos que estavam fartos de ter aqueles vizinhos incómodos que pilhavam a terra, portavam-se de uma forma muito mais brutal em guerra, e ficavam com o que conquistavam (para além das diferenças culturais e religiosas).
Entretanto, os turcos estavam a unificar-se para tentar fazer face a estas ameaça. Evitando combates directos até ao último momento contra a cavalaria pesada cristã, usaram tácticas de emboscadas. Em , esmagaram um dos exércitos cristãos (o dos lombardos e francos) que fora abandonado pelos seus líderes e cavaleiros (que fugiram). Estes foram severamente criticados pela fuga, assim como Aleixo, imperador bizantino, por não ter dado apoio.
Outro grupo, o exército de , também foi destruído de forma similar (com fuga de líderes incluída). A expedição da Aquitânia portou-se melhor: ao menos os cavaleiros ficaram a combater e morrer juntamente com o povo. Alguns poucos conseguiram fugiram para Constantinopla. Três exércitos aniquilados em dois meses, enquanto que o pequeno exército de Jerusalém (com o membros da Primeira Cruzada) derrotava um exército egípcio.
Por alguns anos, não foram pregadas mais cruzadas, e os territórios cristãos no oriente tiveram de se aguentar por conta própria. Assumiram como padroeiro São Jorge da Capadócia, exemplo de cavaleiro cristão, e seu brasão de armas, a cruz vermelha num escudo branco.
Entretanto ordens de monges cavaleiros foram formadas para lutar pelas terras sagradas e cuidar dos peregrinos. Os cavaleiros templários e hospitalários eram, em sua maioria, francos ou seus vassalos. Os cavaleiros teutônicos (Teutonicorum) eram germânicos. Esses eram os mais organizados, bravos e determinados do que os cruzados, mas nunca eram suficientes para fazer a região ficar segura. Os reinos cruzados sobreviveram por um tempo, em parte porque aprenderam a negociar, conciliar e jogar os diferentes grupos árabes uns contra os outros.
O condado de Edessa caiu em 1144, sob Zengui, governante de Alepo e Moçul. Caíram mais tarde Antioquia em 1268, Trípoli em 1289 e o último posto dos Cruzados, Acre, durou até 1291.
Segunda Cruzada (1147-1149)
Em 1145, foi pregada uma nova cruzada por Eugénio III e São Bernardo. A perda do Condado de Edessa provocou a organização dessa cruzada. Desta vez foram reis que responderam ao apelo: Luís VII da França e Conrado III do Sacro Império, para nomear os mais importantes. Curiosamente, os contingentes flamengos e ingleses acabaram por conquistar Lisboa e voltar para as suas terras na sua maioria, uma vez que eram concedidas indulgências para quem combatia na Península Ibérica.
O exército de Conrado acabou esmagado pelos turcos num momento de repouso. O que sobrou juntou-se aos franceses, com o apoio dos templários. Com algumas dificuldades de transporte, mais uma vez uma parte do exército teve de ser abandonada para trás (sobretudo os plebeus a pé), e estes tiveram de abrir caminho contra os turcos.
Luís VII e Conrado em Jerusalém, depois de algumas discussões, acabaram por ser convencidos a atacar Damasco, mas ao fim de poucos dias tiveram que se retirar perante a ameaça de uma parte dos nobres fazê-lo por conta própria. O resultado desta cruzada foi miserável (se excetuarmos a conquista de Lisboa), tendo sucesso apenas em azedar as relações entre os reinos cruzados, os bizantinos e os governantes muçulmanos amigáveis. Nenhuma nova cruzada foi lançada até a um novo acontecimento: a conquista de Jerusalém pelos muçulmanos em 1187. Os cristãos enfrentavam um adversário decidido, Saladino.
Terceira Cruzada (1189-1192)
A Terceira Cruzada, pregada pelo papa Gregório VIII após a tomada de Jerusalém pelo sultão Saladino em 1187, foi denominada Cruzada dos Reis. É assim denominada pela participação dos três principais soberanos europeus da época: Filipe Augusto (França), Frederico Barba-Ruiva (Sacro Império Romano-Germânico) e Ricardo Coração de Leão (Inglaterra).
O imperador Frederico Barba-Ruiva, atendendo os apelos do papa, partiu com um contingente alemão de Ratisbona e tomou o itinerário danubiano atravessando com sucesso a Ásia Menor, porém afogou-se na Cilícia ao atravessar o Sélef (atual ). A sua morte representou o fim prático desse núcleo. Os reis de França e Inglaterra passaram o tempo todo a querelar-se, até que aquele se retirou.
Se Ricardo Coração de Leão conseguiu alguns actos notáveis (a conquista de Chipre, Acre, Jafa e uma série de vitórias contra efectivos superiores) também não teve pejo em massacrar prisioneiros (incluindo mulheres e crianças). Com Saladino, teve um adversário à altura, combatendo e travando um subtil táctico. Em 1192, acabou-se por chegar a um acordo: os cristãos mantinham o que tinham conquistado e obtinham o direito de peregrinação, desde que desarmados, a Jerusalém (que ficava em mãos muçulmanas).
Se esse objectivo principal falhara, alguns resultados tinham sido obtidos: Saladino vira a sua carreira de vitórias iniciais entrar num certo impasse e o território de Ultramar (o nome que era dado aos reinos cruzados no oriente) sobrevivera.
Quarta Cruzada (1202-1204)
A Quarta Cruzada foi denominada também de Cruzada Comercial, por ter sido desviada de seu intuito original pelo doge (duque) Enrico Dandolo, de Veneza, que levou os cristãos a saquear Zara e Constantinopla, onde foi fundado o Reino Latino de Constantinopla, fazendo com que o abismo entre as igrejas Ocidental e Oriental se estabelecesse definitivamente.
O papa Inocêncio III apelou a uma cruzada em 1198 para conquistar Jerusalém (o objectivo falhado da Terceira Cruzada), mas os preparativos começariam dois anos depois. Vários grandes senhores trouxeram exércitos e estipularam um acordo com Veneza que transportaria essas tropas na sua frota em troca de uma quantia. O problema é que muitos dos senhores acabaram por não ir, e os que foram não tinham condições para pagar o valor estipulado (que era fixo).
Foi criado um novo acordo então: os cruzados conquistariam Zara, uma cidade veneziana na Dalmácia que se revoltara, em troca de um adiamento do pagamento. Entretanto chegaram notícias do Império Bizantino. O imperador Isaac II Ângelo fora derrubado pelo seu irmão Aleixo III Ângelo e fora cegado. O filho de Isaac II, de nome Aleixo IV Ângelo, conseguira fugir e apelara aos cruzados para o ajudarem: em troca de o colocarem no trono prometia-lhes dinheiro e os recursos do império para a conquista de Jerusalém. Ainda hoje os historiadores discutem se as coisas se passaram assim ou se foi uma justificação para o que se iria suceder.
Os cruzados aceitaram imediatamente uma vez que isso parecia resolver os seus problemas. Partiram em 1202. O papa considerou que se atacassem território cristão (nomeadamente Zara) ficariam excomungados. A cidade foi conquistada e depois de deixarem passar o inverno atacaram Constantinopla. A cidade resistiu, mas o imperador Aleixo III acabou por fugir com o tesouro da cidade.
Com novos impostos a ser lançados para pagar as promessas feitas aos cruzados, rapidamente a população ficou à beira da revolta. Aleixo V Ducas, um parente afastado fez um golpe matando Aleixo IV e colocando novamente na prisão Isaac II que fora libertado pelos cruzados e governara com o filho.
Os cruzados decidiram então conquistar em proveito próprio o império, nomear um imperador latino e dividir os territórios. Aleixo fugiu com algum tesouro e a cidade foi saqueada pelos latinos durante três dias. Estátuas, mosaicos, relíquias, riquezas acumuladas durante quase um milénio foram pilhadas ou destruídas durante os incêndios. A cidade sofreu um golpe tão terrível que nunca mais conseguiu se recompor, mesmo depois de voltar a ser grega em 1261. E assim terminou a Quarta Cruzada, pois ninguém pensou mais em dirigir-se para Jerusalém: a maioria regressou com o que roubara, alguns ficaram com feudos no oriente.
Cruzada Albigense (1209-1244)
Geralmente é aceito pela maioria dos estudiosos que o catarismo surgiu em meados de 1143, quando surgiram os primeiros relatos de um grupo defendendo crenças similares em Colônia (Alemanha) pela clérigo Eberwin de Steinfeld, o catarismo acreditava no dualismo, professando a existência de um deus do Bem e outro do Mal, Cristo seria o deus do bem enviado para salvar as almas humanas, após a morte as almas boas iriam para o céu, enquanto as más iriam praticar metempsicose. Os cátaros eram especialmente numerosos em Occitânia (sul da atual França), e sua liderança era protegida por nobres poderosos, e também por alguns bispos, que se ressentiam da autoridade papal em suas dioceses. Em 1178, , legado do papa, qualificou as populações de implantação cátara com a alcunha em latim de sedes Satanae, sedes de Satã.
Quando as tentativas diplomáticas do papa Inocêncio III para reverter o catarismo falharam, mais proeminentemente o suposto assassinato do legado papal Pierre de Castelnau, Inocêncio III declarou uma cruzada contra o Languedoque em 1208. A Inquisição foi criada em 1229 para erradicar os cátaros remanescentes, operando no sul de Toulouse, Albi, Carcassona e outras cidades durante todo o século XIII, e uma grande parte do XIV.
Cruzada das Crianças (1212)
A Cruzada das Crianças, é um misto de fantasia e fatos. A lenda baseia-se em duas movimentações separadas com origem na França e na Alemanha, no ano de 1212. Esta cruzada teria ocorrido entre a Terceira e a Quarta Cruzada e seria um movimento extraoficial, baseado na crença que apenas as almas puras (no caso as crianças) poderiam libertar Jerusalém. A ideia teria surgido após a notícia de que Constantinopla, uma cidade cristã, tinha sido saqueada pelos cruzados, fazendo cristãos crerem que não se poderia confiar em adultos.
50 mil crianças teriam sido colocadas em navios, saindo do porto de Marselha (França) rumo a Jerusalém. O resultado foi um desastre, pois a maioria das crianças morreu no caminho, de fome ou de frio. As que sobreviveram foram vendidas como escravas pelos turcos no Norte da África. Alguns chegaram somente até a Itália, outros se dispersaram, e houve aqueles que foram sequestrados e escravizados pelos muçulmanos.
Quinta Cruzada (1217-1221)
Também pregada por Inocêncio III, partiu em 1217 e foi liderada por André II, rei da Hungria, e por Leopoldo VI, duque da Áustria. Decidiu-se que para se conquistar Jerusalém era necessário conquistar o Egito primeiro, uma vez que este controlava esse território.
Desembarcados em São João D'Acre, decidiram atacar Damieta, cidade que servia de acesso ao Cairo, a capital. Depois de conquistar uma pequena fortaleza de acesso aguardaram reforços e se colocaram a caminho. Depois de alguns combates, e quando tudo parecia perdido, uma série de crises na liderança egípcia permitiram aos cruzados ocupar o campo inimigo. O sultão acabou por oferecer o reino de Jerusalém e uma enorme quantia se os cristãos retirassem; o cardeal Pelágio, que se tornara num dos chefes da expedição, acabou por convencer os restantes a recusar.
Começaram a cercar Damieta e depois de algumas batalhas sofreram uma derrota. O sultão renovou a proposta, mas foi novamente recusada. Depois de um longo cerco, que durou de fevereiro a novembro, a cidade caiu. Os conflitos entre os cruzados agudizaram-se e perdeu-se tanto tempo que os egípcios recuperaram forças. Reforços até 1221 chegaram aos cristãos. Lançaram-se numa ofensiva, mas os muçulmanos foram retirando-se e levaram os cruzados a uma armadilha; sem comida e cercados acabaram por ter de chegar a um acordo: retiravam-se do Egito e tinham suas vidas salvas.
Sexta Cruzada (1228-1229)
Foi liderada pelo imperador do Sacro Império Frederico II de Hohenstauffen, que tinha sido excomungado pelo papa. Ele partiu com um exército que foi diminuindo com as deserções, e uma semi-hostilidade das forças cristãs locais devido à sua excomunhão. Aproveitando-se das discórdias entre os muçulmanos, Frederico II conseguiu, por intermédio da diplomacia, um tratado com o sultão aiúbida Camil que lhe concedia a posse de Jerusalém, Belém e Nazaré por dez anos. Mas a derrota dos cristãos em Gaza fê-los perder os Santos Lugares em 1244.
Sétima Cruzada (1248-1254)
Foi liderada pelo rei da França Luís IX, posteriormente canonizado como São Luís. Ele desembarcou diretamente no Egito e, depois de alguns combates, conquistou Damieta. Novamente o sultão ofereceu Jerusalém e novamente foi recusado. Em Almançora, depois de quase terem vencido, os cruzados são derrotados pela imprudência do irmão do rei, Roberto de Artois. Depois de uma retirada desastrosa, o exército rendeu-se. Luís IX caiu prisioneiro e os cristãos tiveram de pagar um pesado resgate pela sua libertação. Somente a resistência da rainha francesa em Damieta permitiu que se conseguisse negociar com os egípcios. Luís ficou mais algum tempo e conseguiu salvar o território de Ultramar (indiretamente, as invasões mongóis deram o seu contributo).
Oitava Cruzada (1270)
Os egípcios da dinastia mameluca
- em 1265, tomaram Cesareia, Haifa e Arçufe;
- em 1266, ocuparam a Galileia e parte da Armênia;
- em 1268, conquistaram Antioquia.
O Oriente Médio vivia uma época de anarquia entre as ordens religiosas que deveriam defendê-lo, bem como entre comerciantes genoveses e venezianos.
O rei francês Luís IX retomou então o espírito das cruzadas e lançou novo empreendimento armado, a Oitava Cruzada, em 1270, embora sem grande percussão na Europa. Os objetivos eram agora diferentes dos projetos anteriores: geograficamente, o teatro de operações não era o Levante mas antes Túnis, e o propósito, mais que militar, era a conversão do emir da mesma cidade norte-africana.
Luís IX partiu inicialmente para o Egito, que estava sendo devastado pelo sultão Baibars. Dirigiu-se depois para Túnis, na esperança de converter o emir da cidade e o sultão ao cristianismo. O sultão Maomé recebeu-o de armas nas mãos. A expedição de São Luís redundou como quase todas as outras expedições, numa tragédia. Não chegaram sequer a ter oportunidade de combater: mal desembarcaram as forças francesas em Túnis, logo foram acometidas por uma peste que assolava a região, ceifando inúmeras vidas entre os cristãos, nomeadamente São Luís e um dos seus filhos. O outro filho do rei, Filipe, o Audaz, ainda em 1270, firmou um tratado de paz com o sultão e voltou à Europa. Chegou a Paris em maio de 1271 e foi coroado rei, em Reims, em agosto do mesmo ano.
Nona Cruzada (1271-1272)
A Nona Cruzada é, muitas vezes, considerada como parte da Oitava.
Em 1268, Baibars, sultão mameluco de Egito, havia reduzido o Reino Latino de Jerusalém, o mais importante Estado cristão estabelecido pelos cruzados, a uma pequena faixa de terra entre Sídon e Acre.
Alguns meses após a morte de Luís IX, na Oitava Cruzada, o príncipe Eduardo da Inglaterra, depois Eduardo I, comandou os seus seguidores até Acre. Em 1271 e inícios de 1272, conseguiu combater Baibars, após firmar alianças com alguns governantes da região adversários dele. Em 1272, estabeleceu contatos para firmar uma trégua, mas Baibars tentou assassiná-lo, enviando homens que fingiram buscar o batismo como cristãos. Eduardo, então, começou preparativos para atacar Jerusalém, quando chegaram notícias da morte de seu pai, Henrique III. Eduardo, como herdeiro ao trono, decidiu retornar à Inglaterra e assinou um tratado com Baibars, que possibilitou seu retorno e, assim, terminou a Nona Cruzada.
Movimento das cruzadas
Origens
A Primeira Cruzada foi um evento inesperado para os cronistas contemporâneos, mas a análise histórica demonstra que teve suas raízes em desenvolvimentos no início do século XI. Clérigos e leigos cada vez mais reconheciam Jerusalém como digna de peregrinação penitencial. O desejo dos cristãos por uma igreja mais eficaz era evidente no aumento da piedade. A peregrinação à Terra Santa expandiu-se após o desenvolvimento de rotas mais seguras pela Hungria a partir de 1000. Havia uma piedade cada vez mais articulada dentro da cavalaria e as práticas devocionais e penitenciais em desenvolvimento da aristocracia criaram um terreno fértil para apelos de cruzadas. O declínio do papado em poder e influência o deixou pouco mais que um bispado localizado, mas sua afirmação cresceu sob a influência da Reforma Gregoriana no período de 1050 a 1080. A doutrina da supremacia papal conflitava com a visão da igreja oriental que considerava o papa apenas um dos cinco patriarcas da Igreja Cristã, ao lado dos Patriarcados de Alexandria, Antioquia, Constantinopla e Jerusalém. Em 1054, diferenças de costume, credo e prática estimularam o Papa Leão IX a enviar uma delegação ao Patriarca de Constantinopla, que terminou em excomunhão mútua e um Cisma Oriente-Ocidente.
Ordens militares
As ordens militares eram formas de uma ordem religiosa estabelecida pela primeira vez no início do século XII com a função de defender os cristãos, além de observar os votos monásticos. Os Cavaleiros Hospitalários tinham uma missão médica em Jerusalém desde antes da Primeira Cruzada, tornando-se mais tarde uma formidável força militar de apoio às cruzadas na Terra Santa e no Mediterrâneo. Os Cavaleiros Templários foram fundados em 1119 por um bando de cavaleiros que se dedicaram a proteger os peregrinos a caminho de Jerusalém.
Os Hospitalários e os Templários tornaram-se organizações supranacionais à medida que o apoio papal levou a ricas doações de terras e receitas em toda a Europa. Isso, por sua vez, levou a um fluxo constante de novos recrutas e à riqueza para manter várias fortificações nos estados cruzados. Com o tempo, eles se tornaram poderes autônomos na região.
Envolvimento feminino
Até que o requisito fosse abolido por Inocêncio III, os homens casados precisavam obter o consentimento de suas esposas antes de tomar a cruz, o que nem sempre era fácil. Observadores muçulmanos e bizantinos viam com desdém as muitas mulheres que se juntaram às peregrinações armadas, incluindo mulheres combatentes. Os cronistas ocidentais indicaram que as cruzadas eram esposas, comerciantes, servas e profissionais do sexo. Tentativas foram feitas para controlar o comportamento das mulheres nas ordenanças de 1147 e 1190. As mulheres aristocráticas tiveram um impacto significativo: liderou sua própria força em 1101; Leonor da Aquitânia conduziu sua própria estratégia política; e Margarida da Provença negociou o resgate de seu marido Luís IX com uma mulher adversária — a sultana egípcia Shajar al-Durr. Misoginia significava que havia desaprovação masculina; cronistas falam de imoralidade e Jerônimo de Praga culpou o fracasso da Segunda Cruzada à presença de mulheres. Mesmo que elas frequentemente promovessem cruzadas, os pregadores as classificavam como obstruindo o recrutamento, apesar de suas doações, legados e resgates de votos. As esposas dos cruzados compartilhavam suas indulgências plenárias.
Finanças das Cruzadas
O financiamento e a tributação das cruzadas deixaram um legado de instituições sociais, financeiras e jurídicas. A propriedade tornou-se disponível enquanto moedas e materiais preciosos circulavam mais facilmente na Europa. As expedições cruzadas criaram imensas demandas por suprimentos de alimentos, armas e transporte que beneficiaram comerciantes e artesãos. As taxas para cruzadas contribuíram para o desenvolvimento de administrações financeiras centralizadas e o crescimento da tributação papal e real. Isso ajudou no desenvolvimento de órgãos representativos cujo consentimento era necessário para muitas formas de tributação. As Cruzadas fortaleceram os intercâmbios entre as esferas econômicas orientais e ocidentais. O transporte de peregrinos e cruzados beneficiou notavelmente as cidades marítimas italianas, como o trio de Veneza, Pisa e Gênova. Tendo obtido privilégios comerciais nos lugares fortificados da Síria, tornaram-se os intermediários privilegiados para o comércio de bens como seda, especiarias, bem como outros bens alimentares brutos e produtos minerais. O comércio com o mundo muçulmano foi assim estendido para além dos limites existentes. Os comerciantes foram ainda mais favorecidos por melhorias tecnológicas e o comércio de longa distância como um todo se expandiu.
Legado
As Cruzadas criaram mitologias nacionais, contos de heroísmo e alguns nomes de lugares. O paralelismo histórico e a tradição de inspirar-se na Idade Média tornaram-se pedras angulares do , encorajando ideias de uma jihad moderna e uma luta secular contra os estados cristãos, enquanto o nacionalismo árabe secular destaca o papel do imperialismo ocidental. Pensadores, políticos e historiadores muçulmanos modernos traçaram paralelos entre as cruzadas e os desenvolvimentos políticos, como o estabelecimento de Israel em 1948. Os círculos de direita no mundo ocidental traçaram paralelos opostos, considerando o cristianismo sob uma ameaça religiosa e demográfica islâmica análoga à situação da época das cruzadas. Símbolos cruzados e retórica anti-islâmica são apresentados como uma resposta apropriada. Esses símbolos e retórica são usados para fornecer uma justificativa religiosa e inspiração para uma luta contra um inimigo religioso.
A jiade
No início do século XII, o mundo muçulmano tinha praticamente esquecido a jiade, a guerra religiosa travada contra os inimigos do Islão. A explosiva expansão da sua religião durante o século VIII tinha-se reduzido às memórias de grandeza dessa época. Após a queda de Jerusalém, muitos proeminentes líderes religiosos, como o qadi Abu Sa’ ad al-Harawi, tentaram convencer o califa abássida a preparar a Jihad contra os firanjes (de francos, que era como os muçulmanos se referiam aos europeus). No entanto, somente perto de duas décadas depois é que o sultão turco designou um proeminente militar, um atabegue chamado Zengui, para resolver o problema firanje.
Após a primeira cruzada, a moral dos muçulmanos estava de rastos. Os firanjes detinham uma reputação de ferocidade entre os turcos e os árabes. Com os espectaculares sucessos em Antioquia e Jerusalém, os firanjes pareciam quase imparáveis. Eles humilhavam o poderoso califado egípcio anualmente e faziam investidas em terras inimigas impunemente. Exceptuando os vassalos do Egito, a maioria dos aterrorizados líderes muçulmanos dos territórios mais próximos pagavam um pesado tributo para assegurar a paz. Zengui iniciou o longo e lento processo de modificar a imagem que os muçulmanos tinham dos firanjes.
Tendo recebido o domínio das terras à volta de Moçul e Alepo, Zengui começou uma campanha contra os firanjes em 1132 com a ajuda do seu lugar-tenente Sauar. Em cinco anos, conseguiu reduzir o número dos castelos importantes ao longo da fronteira do Condado de Edessa e derrotou o exército firanje em batalha. Em 1144, capturou a cidade de Edessa e neutralizou de forma efectiva o primeiro domínio estabelecido pelos Cruzados.
Zengui foi o primeiro líder muçulmano a enfrentar os firanjes e que não só sobreviveu, como triunfou. Ele provou que os firanjes podiam ser bloqueados. Os líderes de Bagdá aprovaram os sucessos de Zengui, e cedo um grande número de títulos precediam o seu nome: O Emir, o General, o Grande, o Justo, o Ajudante de Deus, o Triunfante, o Único, o Pilar da Religião, a Pedra de Base do Islão, …Honra de Reis, Apoiante de Sultões … o Sol dos Merecedores, … Protector do Príncipe dos Fiéis. Zengui gostou tanto da enchente de elogios, que insistiu que os seus arautos e escrivães utilizassem todos os títulos na sua correspondência.
Embora Zengui fosse um grande herói militar, ele foi simplesmente muito implacável e cruel nas suas campanhas contra Damasco para motivar os muçulmanos para uma guerra religiosa. Uma noite do ano 1146, encontrando-se ele alcoolizado, ao ter presenciado a um erro do seu eunuco particular, Lulu (pérola), e prometeu mandá-lo executar por incompetência. Mais tarde, enquanto Zengui dormia, Lulu pegou na adaga do seu dono e apunhalou-o repetidamente e fugiu, coberto pela escuridão da noite.
O herdeiro de Zengui, Noradine, e o seu sucessor Saladino, eram extremamente piedosos, observando rigidamente a Suna e os Pilares do Islão na sua vida pública e particular. Ambos rodearam-se de religiosos e teólogos e sábios em geral. Para além disso fizeram uma activa campanha para espalhar o fervor religioso e propaganda entre os seus súbditos muçulmanos. Com os seus exemplos de religiosidade, Noradine iniciou – e o seu sucessor Saladino cultivou – uma guerra religiosa, uma jihad, contra os firanjes. Enquanto Zengui apenas podia contar com os seus soldados, o apelo à jiade atraiu os soldados muçulmanos de toda a Arábia, Egito e Pérsia. Este massivo exército permitiu Saladino esmagar os firanjes na Batalha de Hatim e enfraquecer as forças da Terceira Cruzada de Ricardo Coração de Leão.
A chama da jiade de Saladino deixou de arder em 1193, quando morreu. O irmão do sultão, Safadino, não pretendia entrar em mais guerras, e quando Ricardo Coração de Leão foi para a Europa, o poderio militar dos firanjes estava praticamente neutralizado e não mais necessidade de derramamento de sangue. A partir desta altura Safadino acreditava que a coexistência pacífica com firanjes ainda era possível. Várias décadas mais tarde, uma jiade iria finalmente purgar os firanjes da Síria e Palestina, embora até 1291, os muçulmanos ainda partilhassem uma pequena parte desse território com os firanjes.
As cruzadas na reconquista de Portugal
Quando surgiu o reino de Portugal, a cristandade agitava-se no fervor das Cruzadas do Oriente. Os portos de Galiza, que davam acesso a Santiago de Compostela, a barra do rio Douro e a vasta baía de Lisboa, eram pontos de escala das frotas de cruzados que do Norte da Europa seguiam para a Terra Santa. Quando, em 1140, Afonso I tentou a conquista de Lisboa, fê-lo com o auxílio de estrangeiros: setenta navios franceses que tinham entrado a barra do Douro e aportado a Gaia. Mas a conquista não foi possível devido às poderosas defesas que rodeavam Lisboa.
Em 1147, entra na barra do Douro, vinda de Dartmouth, uma frota de 200 velas, transportando cruzados de várias nações: alemães, flamengos, normandos e ingleses num total de 13 000 homens. Aproveitando este fato, Afonso I escreveu ao bispo do Porto D. Pedro, pedindo-lhe que persuadisse os cruzados a ajudarem-no na empresa, prometendo-lhes o saque da cidade. No dia seguinte desembarcaram os cruzados em Lisboa, que tiveram as últimas negociações com D. Afonso, firmando o pacto. Depois da tomada da cidade, muitos cruzados ficaram por lá. Um capitão de cruzados, Jourdan, foi senhor e parece que o primeiro povoador da Lourinhã. Ao francês Allardo foi doada Vila Verde dos Francos, no distrito de Lisboa e concelho de Alenquer (perto da Serra do Montejunto).
Alguns anos depois, em 1152, partiu de Bergen uma esquadra de peregrinos do Norte da Europa, comandados por , rei das Órcades, com 15 navios e 2 000 homens. No inverno do ano seguinte, esta esquadra estava nas costas de Galiza onde pilhou algumas povoações. No verão de 1154 desce a costa portuguesa e ajuda o monarca na conquista de Alcácer do Sal. A empresa era rendosa, pois a cidade era o mais importante porto do Sado, cercada de pinhais, cujas madeiras eram utilizadas na construção de navios. A empresa falhou e o mesmo se deu anos mais tarde desta vez com a ajuda da frota do conde da Flandres composta de franceses e flamengos, e partiu para a Síria em 1157, aportando à barra do Tejo.
Em 1189, D. Sancho I entra em negociações com outra esquadra, que acabou por entrar na baía de Lagos e ocuparam o Castelo de Albur (Alvor), um dos mais fortes da região. Meses depois entra no Tejo outra frota alemã que tocara em Dartmouth recebendo muitos peregrinos e que ajudou a conquistar Silves. Capital de província, populosa, grande centro de comércio e de cultura, a cidade estava bem fortificada. A notícia destas vitórias chegou ao Norte de África e a resposta não se fez esperar.
Os mouros põem cerco a Silves, que não conseguiram tomar, partindo o califa em direcção a Santarém, tomando Torres Novas no caminho e pondo o cerco a Tomar. Perante esta situação, D. Sancho I pediu auxílio aos cruzados vassalos de Ricardo Coração de Leão, que se tinham reunido no Tejo, e foram ter a Santarém, que não chegou a ser atacada por causa da peste que vitimou a maior parte dos mouros.
No ano seguinte, os mouros regressam reconquistando Silves, a província de Alcácer, com excepção de Évora. Anos depois outra armada de cruzados, mesmo sem terem chegado a acordo com D. Sancho I, tomam Silves e saqueiam a cidade, prosseguindo para a Síria. Em 1212, com a derrota na Batalha de Navas de Tolosa, o reino mouro entra em decadência. Em 1217, entra nova frota alemã, e D. Soeiro, bispo de Lisboa, convenceu-os a conquistar Alcácer do Sal, navegando a esquadra por Setúbal, com os seus 100 navios. Alcácer resistiu durante dois meses até capitular. No princípio do Inverno regressa a frota ao Tejo, passando aí o resto do inverno.
Ver também
- Cruzadas do Norte
Notas
- Veja especialmente The Origins of European Dissent de R.I. Moore, e a coleção de ensaios Heresy and the Persecuting Society in the Middle Ages: Essays on the Work of R.I. Moore para uma consideração sobre a origem dos cátaros, e prova contra a identificação anterior de heréticos no Ocidente, tal como aqueles identificados em 1025 em Monforte d'Alba, próximo a Turim, como cátaros. Ver também Heresies of the High Middle Ages, uma coleção de documentos pertinentess às heresias ocidentais na Alta Idade Média, editada por Walter Wakefield e Austin P. Evans.
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Crusades», especificamente desta versão.
Referências
- Riley-Smith, Jonathan. The Oxford History of the Crusades New York: Oxford University Press, 1999. ISBN 0-19-285364-3.
- Riley-Smith, Jonathan. The First Crusaders, 1095-1131 Cambridge University Press, 1998. ISBN 0-521-64603-0.
- Papayianni, Aphrodite (2006). «Byzantine Empire». The Crusades: An Encyclopedia. [S.l.: s.n.] pp. 188–196
- Jotischky, Andrew (2004). Crusading and the crusader states. [S.l.]: Pearson/Longman. pp. 41–43
- Setton, Kenneth (2006). «Cap.: The Turkish Invasion: The Selchükids (por Cahen, Claude)». A History of the Crusades, Volume I: The First Hundred Years. [S.l.]: University of Wisconsin Press. pp. 99–132
- Oman, Charles (2018). «Cap. Decline of the Byzantine Army 1071-1204». A history of the art of war in the Middle Ages ( Vol. I) 378-1278. [S.l.]: Routledge. pp. 218–228
- Duncalf, Frederic (1969). «The Councils of Piacenza and Clermont (Em Setton,K., A History of the Crusades: Vol. I. pp. 220–252.)» (PDF)
- Munro, Dana Carleton. «The speech of Pope Urban II. at Clermont, 1095». HathiTrust (em inglês). American Historical Review. Consultado em 30 de julho de 2023
- WILLIAMS, Paul L. (2007). O guia completo da Cruzadas. 1 1 ed. São Paulo: Madras. 326 páginas. ISBN 978-85-370-0225-4
- História Global Brasil e Geral. Volume Único. Gilberto Cotrim. ISBN 978-85-02-05256-7
- "Massacre of the Pure." Time. 28 April 1961.
- Duvernoy, Jean,, escrito(a) em Paris, ISBN 2910352064. Text and French translation. Reprinted: Toulouse: Le Pérégrinateur, 1996.)
- (Labal :129)
- Sibly, W. A. and M. D., translators (1998). The history of the Albigensian Crusade: Peter of les Vaux-de-Cernay's Historia Albigensis. Woodbridge: Boydell. ISBN 0851158072
- (2005). The Cathars. [S.l.]: Pocket Essentials. pp. 105–121. ISBN 978-1904-04833-1 Verifique
|isbn=
(ajuda) - Jotischky 2004, p. 31.
- Jotischky 2004, pp. 24–30.
- Asbridge 2012, p. 168.
- Asbridge 2012, pp. 169–170.
- Edgington, Susan, and Sarah Lambert. Gendering the Crusades. Columbia University Press, 2002.
- Tyerman 2019, pp. 10–12.
- Bird, Jessalynn (2006). "Finance of Crusades". In The Crusades – An Encyclopedia. pp. 432-436.
- Cartwright, Mark (8 de janeiro de 2019). «Trade in Medieval Europe». World History Encyclopedia (em inglês). Consultado em 30 de abril de 2021
- Tyerman 2019, p. 468.
- Asbridge 2012, pp. 675–680.
- Asbridge 2012, pp. 674–675.
- Koch 2017, p. 1.
Bibliografia
- Abulafia, David (1992). Frederick II: A Medieval Emperor. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780713990041
- Asbridge, Thomas (2000). The Creation of the Principality of Antioch, 1098–1130. [S.l.]: Boydell & Brewer. ISBN 9780851156613
- Asbridge, Thomas (2004). The First Crusade: A New History. [S.l.]: Oxford. ISBN 9780195178234
- Asbridge, Thomas (2012). The Crusades: The War for the Holy Land. [S.l.]: Simon & Schuster. ISBN 9781849836883
- (1994). The New Knighthood. A History of the Order of the Temple. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 9781107604735
- Barber, Malcolm (2012). The Crusader States. [S.l.]: Yale University Press. ISBN 9780300189315
- (1923). The Crusades. Col: World's manuals. [S.l.]: Oxford University Press, London
- Christie, Niall (2014). Muslims and Crusaders: Christianity's Wars in the Middle East, 1095-1382, from the Islamic Sources. [S.l.]: Routledge. ISBN 9781138543102
- El-Azhari, Taef (2016). Zengi and the Muslim response to the Crusades: The politics of Jihad. [S.l.]: Routledge. ISBN 9780367870737
- (1969). The Aiyūbids (PDF). [S.l.]: A History of the Crusades (Setton), Volume II
- (1982). The Italian Crusades: The Papal-Angevin Alliance and the Crusades Against Christian Lay Powers, 1254-1343. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780198219255
- Housley, Norman (1992). The Later Crusades, 1274-1580: From Lyons to Alcazar. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780198221364
- Housley, Norman (1995). «The Crusading Movement 1271-1700». In: Riley-Smith, Jonathan. The Oxford Illustrated History of The Crusades. [S.l.]: Oxford University Press. pp. 260–294. ISBN 9780192854285
- Jotischky, Andrew (2004). Crusading and the Crusader States. [S.l.]: Pearson Longman. ISBN 9781351983921
- Koch, Ariel (2017). «The New Crusaders: Contemporary Extreme Right Symbolism and Rhetoric». . 11 (5): 13–24
- Lewis, Bernard (2003). The Assassins: A Radical Sect in Islam. [S.l.]: Phoenix. ISBN 9781842124512
- Lewis, Kevin James (2017). The Counts of Tripoli and Lebanon in the Twelfth Century: Sons of Saint-Gilles. [S.l.]: Routledge. ISBN 9781472458902
- Lock, Peter (2006). The Routledge Companion to the Crusades. [S.l.]: Routledge. ISBN 0-415-39312-4
- Maalouf, Amin (2006). The Crusades through Arab Eyes. [S.l.]: Saqi Books. ISBN 9780863560231
- Madden, Thomas F. (2013). The Concise History of the Crusades. [S.l.]: Rowman & Littlefield. ISBN 978-1-442-21576-4
- (1902). Letters of the Crusaders. Col: Translations and reprints from the original sources of European history. [S.l.]: University of Pennsylvania
- Murray, Alan V. (2006). The Crusades—An Encyclopedia (PDF). [S.l.]: ABC-CLIO. ISBN 978-1-57607-862-4
- Murray, Alan V. (2009). «Participants in the third crusade». Oxford Dictionary of National Biography online ed. Oxford University Press. doi:10.1093/ref:odnb/98218 (Requer Subscrição ou ser sócio da biblioteca pública do Reino Unido.)
- (1924). Richard the Lion Heart. [S.l.]: Macmillan and Co.
- Oman, Charles (1924). A History of the Art of War in the Middle Ages. [S.l.]: Metheun
- Perry, Guy (2013). John of Brienne: King of Jerusalem, Emperor of Constantinople, c. 1175–1237. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 9781107043107
- Phillips, Jonathan (2009). Holy Warriors: A Modern History of the Crusades. [S.l.]: Random House. ISBN 9781400065806
- (1972). The Crusaders' Kingdom. [S.l.]: . ISBN 978-1-84212-224-2
- (1999). The Crusades, c.1071 – c.1291. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-62566-1
- Riley-Smith, Jonathan (1973). The Feudal Nobility and the Kingdom of Jerusalem, 1174-1277. [S.l.]: Macmillan. ISBN 978-0333063798
- Riley-Smith, Jonathan (1998). The First Crusaders, 1095–1131. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 9780521646031 Verifique o valor de
|url-access=registration
(ajuda) - Riley-Smith, Jonathan (2001). The Oxford Illustrated History of The Crusades. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780192854285
- Riley-Smith, Jonathan (2005). The Crusades: A History. [S.l.]: Yale University Press. ISBN 9780300101287
- (1855). The Great Sieges of History. [S.l.]: Routledge
- Runciman, Steven (1951). A History of the Crusades, Volume One: The First Crusade and the Foundation of the Kingdom of Jerusalem. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 9780521347709
- Runciman, Steven (1952). A History of the Crusades, Volume Two: The Kingdom of Jerusalem and the Frankish East, 1100-1187. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 9780521347716
- Runciman, Steven (1954). A History of the Crusades, Volume Three: The Kingdom of Acre and the Later Crusades. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 9780521347723
- (1969). A History of the Crusades. [S.l.]: University of Wisconsin Press
- Slack, Corliss K. (2013). Historical Dictionary of the Crusades. [S.l.]: Scarecrow Press. ISBN 9780810878303
- Small, R. C. (1995). Crusading Warfare, 1097–1193. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 9780521458382
- Stevenson, William Barron (1907). Crusaders in the East. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 9780790559735
- Tyerman, Christopher (1996). England and the Crusades, 1095-1588. [S.l.]: University of Chicago Press. ISBN 0-226-82012-2
- Tyerman, Christopher (2006). God's War: A New History of the Crusades. [S.l.]: . ISBN 978-0-674-02387-1
- Tyerman, Christopher (2009). The Crusades: A Brief Insight. [S.l.]: Sterling Press. ISBN 978-0192806550
- Tyerman, Christopher (2011). The Debate on the Crusades, 1099–2010. [S.l.]: Manchester University Press. ISBN 978-0-7190-7320-5
- Tyerman, Christopher (2019). The World of the Crusades. [S.l.]: Yale University Press. ISBN 978-0-300-21739-1
- von Sybel, Heinrich (1861). The History and Literature of the Crusades. [S.l.]: G. Routledge & Son, Limited
- (1969). The Latin Empire of Constantinople, 1204-1312 (PDF). [S.l.]: A History of the Crusades (Setton), Volume II
- Yewdale, Ralph Bailey (1917). Bohemond I, Prince of Antioch. [S.l.]: Princeton University
Ligações externas
- «O Portal da História»
- «ORB Online Encyclopedia» (em inglês) [ligação inativa]
- «RUNCIMAN, Steven - A History of the Crusades V. II - The Kingdom of Jerusalem and the Frankish East (1100-1187). Cambridge at the University Press, 1952» (PDF) (em inglês)
wikipedia, wiki, livro, livros, biblioteca, artigo, ler, baixar, grátis, download grátis, mp3, vídeo, mp4, 3gp, jpg, jpeg, gif, png, imagem, música, música, filme, livro, jogos, jogos, celular, telefone, Android, iOS, maçã, Samsung, iPhone, Xiomi, Xiaomi, Redmi, Honra, Oppo, Nokia, Sonya, Mi, PC, Web, Computador